quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Análise da presença de praças em Belém/PA



Luiz Henrique Almeida Gusmão
Geógrafo e Lic. em Geografia (UFPA)
Mapas em Geral, Treinamentos,
Banco de dados, SHPs e Kmls
Contato: [55] (91) 98306-5306 (WhatsApp)
Emails: henrique.ufpa@hotmail.com
gusmao.geotecnologias@gmail.com



1. INTRODUÇÃO

Esta postagem tem o propósito de realizar breve análise espacial da presença de praças no município de Belém (parte continental), assim como discutir a importância desses espaços como pontos de práticas sociais, manifestações culturais e esportivos, assim como de convívio social. O principal objetivo proposto é representar e analisar a presença de praças nos bairros de Belém (parte continental).




2. MATERIAIS E MÉTODOS  

A partir dos dados do IMAZON (2006) foram realizados mapas temáticos que destacam a proporção de praças por habitante nos bairros de Belém. Além disso, destacou-se praças importantes de Belém e as principais do bairro da Campina. Todas as figuras foram confeccionadas com o software Philcarto através do método coroplético e corocromático.


3. DESENVOLVIMENTO
3.1 Definições do conceito de praça

A praça é o lugar intencional do encontro, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária (MENDONÇA, E. apud LAMAS, 2000). Esse espaço é recordado por muitos como ponto de encontro da infância, onde brincava-se com os balanços, gangorras, escorregadores, patinetes, bicicletas, patins, skates, entre outros, enquanto na adolescência, era lugar de ponto de namoro ou de encontro com os amigos após a escola.

Na fase adulta, é lembrando como espaço em que se levam os filhos, sobrinhos e primos para passear, brincar e comer; ponto de manifestações culturais como o Arrastão do Pavulagem, de manifestações políticas como o Passe Livre, "Brasil sem corrupção", Movimento LGBT; da prática de atividades físicas, entre outros. Enfim, todos nós temos recordações de algum modo desse espaço que fez ou faz parte da nossa vida.

Conforme o IMAZON (2007), as cidades mais aprazíveis são aquelas que reservam amplos espaços do seu território para as praças. Isso porque as praças têm um papel essencial nos centros urbanos ao proporcionar lazer, espaço para atividades culturais e esportivas, e oportunidades para o sossego e contemplação.

Segundo (MENDONÇA, E. apud CASSETI, A. 1995), a praça é considerada desde sempre, como âmbito da visibilidade, onde aparecer significa existir na qualidade de ator social. Em Belém, na "época áurea da borracha na Amazônia", era espaço por onde as elites desfilavam com trajes finos "la francesa". 

Hoje é considerado como espaço das multiterritorialidades, onde de acordo com o horário e o dia, os sujeitos sociais são diferenciados, como famílias; "Tribos urbanas" como "rockeiros", "reggaeiros", "metaleiros", mendigos, feirantes, ambulantes, entre outros. Muitas vezes, há uma coexistência entre esses sujeitos sociais, dependendo muitas vezes da praça. 



Figura 1. Visão da Praça da República a partir do coreto
Fonte: Google Maps (2017)

Nesse sentido, a praça pode ser definida, de maneira ampla, como qualquer espaço público urbano, livre de edificações, que propicie convivência e/ou recreação para os seus usuários (MENDONÇA, E. apud VIERO, 2009).

As praças são espaços livres, haja vista, nos dias de hoje serem vista pela maioria da sociedade como espaços abandonados, de mendicância, ponto de drogas e até mesmo de prostituição (MENDONÇA apud CHIES, 2000). 

Em Belém, as praças localizadas no centro da cidade em sua maioria tem manutenção razoável e esporádica, principalmente a Praça da República, Batista Campos, Frei Caetano Brandão, Praça D. Pedro II, Felipe Patroni, Brasil, no qual muitas vezes só são "cuidadas" após reclamações constantes pelos meios de comunicação ou por agentes comunitários. 

No entanto, muitos bairros da cidade não têm praça e são aqueles, em sua maioria, periféricos e pobres da cidade, no qual as famílias têm que se deslocar até o centro da cidade para usufruir de um espaço público igual a esse.


3.2 A situação das praças na Belém Continental

Em 2004, Belém possuía 47 bairros com praças e 24 sem praças, porém a qualidade das áreas verdes nessas praças é considerada ruim, pois apenas 34% se mantêm conservados, possuindo ainda 49% de espaços sem jardinagem, 5% sem áreas verdes e 12% abandonadas (IMAZON, 2004). 

Quanto aos equipamentos como bancos, coretos, brinquedos, postes, gramado, etc, a pesquisa constata que quase a metade deles (48%) está depredada ou inutilizada (38%) (IMAZON, 2004). 

Para o IMAZON (2004), a péssima condição das praças em Belém e na Região Metropolitana de Belém é reflexo do crescimento urbano desordenado, que invade as áreas verdes, diminuindo a qualidade de vida da população. Nesse caso, destaca-se também a falta de planejamento público no setor de áreas verdes e recreação nos bairros pela Prefeitura de Belém, assim como a demora na manutenção das existentes.

As praças significam dar à população um espaço para lazer e prática esportiva, o que resulta em uma diminuição da violência e melhoria na saúde. (IMAZON, 2004). As praças não cuidadas são lugares propícios a prática do consumo de drogas, de pequenos delitos e outros crimes, como visto em algumas da capital paraense, assim como em outras cidades do Brasil.


Figura 2. Visão parcial da Pça. Batista Campos
Fonte: Google Maps (2017)


Conforme a figura abaixo, os bairros com melhor disponibilidade de praça por habitante são: Campina, Cidade Velha e Souza. Nos bairros centrais, as praças remontam o período da Belle Epoque, onde vários espaços públicos arborizados foram feitos para amenizar o calor e embelezar a cidade. Nesses bairros estão as mais praças mais frequentadas e tradicionais de Belém como República, Sereia, Waldermar Henrique e Bandeira. 



Figura 1. Belém Continental - Área de praça em m2 por habitante nos bairros em 2006 pelo Philcarto
* Autorizo a utilização e a reprodução desde que a fonte seja citada e nenhum elemento modificado
Fonte: Luiz Henrique Almeida Gusmão (2013)


Ainda conforme a figura, outros bairros que se destacam estão na porção oeste de Belém: Val-de-Cans, Maracangalha e Miramar, onde a ocupação é mais recente e muitas praças foram planejadas, sendo alguns dos bairros mais arborizados da cidade. 

De forma isolado, destacam-se: Souza e Coqueiro. São bairros com menor densidade demográfica, onde ainda é possível ver alguns resquícios de praças arborizadas.

Por outro lado, percebe-se que a maioria dos bairros de Belém tinha até 1 m² de praça por habitante, sendo aqueles com maior adensamento populacional. Muitos desses bairros são os mais pobres e periféricos, com algumas exceções.

Já aqueles sem praças, destacam-se muitos bairros de Icoaraci, Barreiro e outros na borda leste da cidade, quase no município de Ananindeua.


Muitas vezes, a praça é um dos únicos locais de lazer de famílias mais pobres, no qual a sua ausência é mais sentida nos bairros periféricos da cidade do que os centrais. A maioria está distante do centro, entre 4 e 30 km. Muitos deles tem poder aquisitivo inferior a 2 salários mínimos, com difícil acesso ao centro e poucas opções de lazer público neles.


A partir disso realizamos uma classificação dos bairros conforme a situação da área de praça por habitante, destacando hotspots para futura implantação. As categorias são: muito confortável, confortável, razoável, crítico e muito crítico.



Figura 02. Belém continental - Condição do bairro por área de praça (2006)
* Autorizo a utilização e a reprodução desde que a fonte seja citada e nenhum elemento modificado
Fonte: Luiz Henrique Almeida Gusmão (2013)


A figura acima revela que na maioria dos bairros de Belém a presença de praça é crítica, com poucos espaços desse tipo. No entanto, raros bairros se destacam com maior presença de praças como Campina, Cidade Velha e Souza. As figuras abaixo destacam os hotspot sem nenhuma praça.


# Área 1: Norte de Belém, especialmente em Icoaraci;
# Área 2: Bairro de Águas Lindas, Aurá e Castanheira;
# Área 3: Bairro da Cabanagem e Una
# Área 4: Bairro São Clemente 
# Área 5: Bairro do Barreiro. 

Figura 03. Bairros de Icoaraci
Fonte: Google Earth (2013)

Figura 04. Bairros da Guanabara, Águas Lindas e Aurá
Fonte: Google Earth (2013)


Figura 05. Bairros da Cabanagem e Una
Fonte: Google Earth (2013)


Figura 06. Bairro São Clemente
Fonte: Google Earth (2013)


Figura 07. Bairro do Barreiro
Fonte: Google Earth (2013)


Em outro extremo, cerca de 6 bairros estão em uma situação razoável: Batista Campos, Reduto, Val-de-Cans, Miramar, Maracangalha e Coqueiro. Já a Cidade Velha e o Souza gozam de uma situação confortável, enquanto o bairro da Campina está enquadrado em muito confortável, contrastando com a maioria dos bairros da cidade, como podemos ver abaixo:

Figura 08. Bairro da Campina
Fonte: Google Earth (2013)



Figura 09. Situação e quantidade dos bairros de Belém em relação a Área de Praça/Habitante (2006)
Fonte: IMAZON (2006)
Org. Luiz Henrique Almeida Gusmão

Cerca de 81% dos bairros de Belém está entre o crítico e o crônico, tornando-se muito preocupante. Entre 2006 a 2013, poucas praças foram reformadas, e construídas (Nos bairros centrais), porém tais informações não estão disponíveis ao público em geral. É claro que os índices em alguns bairros variaram, mas foi pouco significativo, já que tais bairros mostrados ainda permanecem sem suas áreas livres.


4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A distribuição das praças públicas em Belém é muito desigual, no qual poucos bairros centrais gozam de considerável espaço para a prática esportiva, cultural, contemplação da natureza e portanto, lazer, enquanto outros não têm este direito garantido, contribuindo no deslocamento de centenas de pessoas para as áreas centrais. Muitos bairros da cidade mal tem uma "pracinha" ou por causa da rápida ocupação espontânea ou pela supressão de possíveis espaços por avenidas, edifícios e outras construções. 


5. REFERÊNCIAS

FIGUEIREDO, S. de L; BAHIA, M.C. A privatização do público: áreas verdes e espaços de lazer em Belém/Brasil. NAEA. UFPA. 2008. Disponível em <http://www.ufpa.br/naea/siteNaea35/anais/html/geraCapa/FINAL/GT11-89-1103-20081123135431.pdf>. Acesso em 09/11/2013.

MENDONÇA, E. M. de S. Apropriações do espaço público, alguns conceitos. UERJ. 2007. Disponível em <http://www.revispsi.uerj.br/v7n2/artigos/pdf/v7n2a13.pdf>. Acesso em 01/11/2013.

NETUNO, L, et. al. Belém Sustentável 2007. Belém. Instituto do Homem e do meio ambiente da Amazônia 2008. Disponível em <http://www.bibliotecaflorestal.ufv.br/bitstream/handle/123456789/3468/Livro_Belem-sustentavel-2007-IMAZON.pdf?sequence=1> Acesso em 10/11/2013. 

IMAZON. Instituto do homem e do meio ambiente da Amazônia. Disponível em< http://www.imazon.org.br/publicacoes/livros/belem-sustentavel-1. Acesso em 06/11/2013.

IMAZON. Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia. <http://www.imazon.org.br/publicacoes/livros/copy9_of_Figura9.JPG/image_view_fullscreen>Acesso em 05/11/2013


Software Philcarto. Disponível em http://philcarto.free.fr

Software Google Earth. Disponível em http:googleearth.com

WebGIS. Google maps. Disponível em http:googlemaps.com


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