sábado, 25 de setembro de 2021

5 Termos e expressões + detestados por Cartógrafos




Luiz Henrique Almeida Gusmão
Msc. Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano (UNAMA)
Geógrafo e Lic. em Geografia (UFPA)
Mapas em Geral, Treinamentos,
Banco de dados, SHPs e Kmls
Contato: [55] (91) 98306-5306 (WhatsApp)
Email: luizgusmao.geo@gmail.com



#5 Termos e Expressões + detestados por Cartógrafos


1) "Mapinha"

É o termo mais comum de ouvir para quem é profissional da Cartografia. O seu uso está associado inicialmente a ignorância por aqueles que pedem um mapa, por imaginar um trabalho rápido ou automatizado. 

Em muitos casos, trata-se de uma estratégia consciente ou inconsciente de querer pagar um valor baixo ou desmoralizar a importância do profissional diante da urgência de quem solicita. 

Em ambientes de pesquisa como universidades e instituições, é relativamente comum ouvir essa palavra por PH.D, Doutores e outros profissionais com titulação acadêmica. Na maioria das vezes são pessoas de outras áreas fora da Geografia, Eng. Cartográfica e correlatas. Contudo, há casos de professores e pesquisadores dessas áreas sem conhecimento técnico e artístico na produção de mapas que também usam essa palavra. Deprimente e decadente!

Esse termo é usado para desmerecer a produção cartográfica em prol da escrita e pesquisa, no qual o mapa é usado para evidenciar registros fundamentais do estudo. Acontece que o mapa também é pesquisa! e ainda é ciência e técnica! ou seja, tem importância igual a escrita por outros pesquisadores. Sem ele, vários achados não seriam demonstrados ou encontrados. Portanto, mapa não é igual a uma tabela ou um gráfico.

Essa nefasta palavra é acompanhada da visão limitada de um mapa como figura qualquer. A popularização da informática, dos softwares GIS e do Youtube criaram a falsa ideia, por não profissionais, da simplicidade e rapidez de se fazer um mapa; puro engano. Essa ideia concebe a Cartografia apenas como técnica e ignora o rigor científico.

Nem todo o mapa é para ver, como dizem os professores Herve Thery, Nelli Thery, Marcelo Martinelli, Rosely Archela, Eduardo Girardi e Tony Sampaio. Há mapas para ler também! Ou seja, ele não é usado apenas como recurso visual, pois precisa ser lido quando há muitas informações. A partir dele é possível verificar tendências, rupturas, desigualdades e cenários no espaço, ou seja, é um poderoso documento na pesquisa. Não o desmereça!


2) "Um mapinha simples"

É a visão ultrapassada do mapa como um produto técnico feito em 5 passos, 10 minutos, usando 3 ferramentas e alinhada a ansiedade de quem solicita. Também busca desqualificar o trabalho dos outros. Quem solicita geralmente é exigente e o volume de dados para pôr no mapa é enorme; então não é simples ou simplesinho.

Não existe mapa simples! Existem mapas com poucas informações para destacar. Também é uma expressão usada para desvalorizar o profissional e pagar pouco pela sua mão-de-obra. Simples? Procure fazer um mapa de localização destacando todos os elementos cartográficos obrigatórios em harmonia com cores e outros dados. Só para lembrar, é preciso ter beleza nele também, porque é arte. E não pode esquecer de onde os dados foram retirados e quando.

Nem o melhor tutorial do Youtube vai te permitir fazer um documento cartográfico de qualidade e com rigor técnico, porque nem tudo está na internet. Há representações cartográficas que exigem pesquisa e habilidade para fazê-las. Nem todo o mapa é de localização, mas toda localização deve existir em um mapa.


3) "Faz um mapa para deixar o artigo mais bonito"

Convenhamos que não há maldade em usar um mapa para deixar o seu artigo mais agradável. Entretanto, o perigo dessa frase é ver o mapa apenas como arte, o que ele não é somente. 

Em alguns casos, a pessoa solicita e deixa o material de enfeite no estudo. Não pode fazer isso! É preciso discuti-lo, analisá-lo e fazer relações com as outras discussões presentes no seu texto. É necessário compreender o que "o mapa quer dizer"; sem isso, não há o porquê dele estar lá. O Prof. Martineli já dizia que todo mapa tem comentário, então, escreva a partir dele também.

O mapa é fonte de informações do qual é preciso analisar criticamente, sem vieses. Não é algo fácil, mas exige do nosso tempo entender o amaranhado de informações presentes nele. É possível extrair dele novas discussões e repensar metodologias do estudo por exemplo. Acredite, ele "fala".


4) "O mapa é um recurso para ver dados organizados"

Aqui também é uma visão limitada dele. O mapa não mostra dados da mesma forma que uma tabela ou gráfico. Ele é fonte de conhecimento para quem o percebe assim. Há possibilidade de analisar o espaço de modo crítico a partir daquelas informações. É preciso entendê-lo e articular com outros dados e discussões. 

A própria espacialização em um mapa nos dá uma visão diferenciada do fenômeno analisado, porque conseguimos calcular distância, ver o cruzamento de variáveis, avaliar diferenças latentes no espaço, entre outras possibilidades. Portanto, ele não mostra só dados. 

Normalmente quem pensa assim nunca leu um artigo no qual o mapa é visto dessa forma, porque poucos o enxergam dessa maneira, até mesmo entre alguns geógrafos e cartógrafos. Olha a tristeza! Contudo, é crescente o número de publicações no qual o mapa é analisado de verdade, em sua plenitude no discurso. Faça o esforço de ler e ver o mapa, com calma e reflexivo. Pode ter certeza de que existe essa relação. 

Leia a tese do Prof. Eduardo Girardi da UNESP e você verá o que estou reafirmando. A sua visão do mapa a partir da leitura da tese será outra, certeza!


5) "Mapa com cores mais alegres para temas não alegres"

Essa frase foi novidade para mim. A Cartografia é arte também. Então, devemos usar cores aderentes aos temas trabalhados. Já imaginou os oceanos e os rios na cor roxa? As florestas representadas de vermelho? Pois é, tema e cor estão associados.

Ao falar de suicídio, não espere que seja algo feliz. Portanto, deve-se usar roxo, lilás, vermelho e cores associadas. Nada de laranja, azul ou amarelo para passar uma imagem mais positiva. Isso não existe. Eu confesso que há um juízo de valor nesses casos. Mas, convenhamos, todo suicídio é ruim, assim como homicídio, guerras e outras mazelas da nossa sociedade. 

A teoria das cores já nos mostra o tipo de sentimento e emoção que cada uma passa. Então, as cores transmitem informações e sensações para os leitores. Se isso fosse mentira, tudo seria preto e branco. 

Além do mais, tudo fica mais fácil de entender quando a cor está aderente ao tema. Ao pensar em homicídio por exemplo, não espere vir a mente a cor azul ou verde, que nada lembram o sangue.


#Conclusões

Não existe mapinha, mas um produto cartográfico (ou mapa) com poucas informações que exige menos tempo para concluir, o que não significa pagamento irrisório. Por favor, ajude o profissional a continuar trabalhando na área. Não diga que é caro. Dê outra desculpa para ele/ela.

Se "mapinha" é péssimo, imagina "um mapinha simples". Por favor, não. É um mapa com poucas informações ou que para você é simples, mas o profissional precisar avaliar o tempo para concluí-lo.

Todo mapa deve ser bonito, mas por favor, não deixe ele de enfeite no seu artigo! Se está com dificuldade para argumentar, recorra ao profissional ou outros da área. Não é sua obrigação saber ler e extrair informações dos mapas, mas acredite, há muito para se comentar e discutir a partir dele.

O mapa não é igual uma tabela ou gráfico. Dê atenção ao profissional responsável pela sua confecção ou leitura do documento! Não fique restrito à sua área de atuação. O mapa não sai apenas apertando botões ou vendo vídeo no Youtube ou outra rede social.

O mapa é arte e as cores precisam conversar com o tema proposto. As cores precisam ser usadas adequadamente. O mar quase sempre será representado de azul; a floresta de verde e assim por diante. Por isso existem convenções cartográficas. Contudo, é sempre bom deixar o mapa harmônico, sem ambiguidades.

Por fim, mapa é poder, conhecimento e perspectiva diferenciada de ver a estruturação de fenômenos sociais, econômicos, ambientais e políticos. Esperamos que o veja sempre dessa forma. 

Várias outras palavras e expressões ficaram de fora, mas acredito que a lista contempla as principais. Quais outras causam revolta ou insatisfação?



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